SUMMER LOVE

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012



Segue a entrevista exclusiva para o Blog, do DJ e  Produtor Rafael Araujo, mora atualmente em Los Angeles, fala dos seus projetos e da cena musical de la.






1- Voce participou do início da cena eletronica em Curitiba, das primeiras raves, das festas do Big Fish, fale um pouco disso.


Nao foi bem do inicio. Mesmo quando comecamos a Big Fish, em 2000, ja existia uma cena pre-determinada em Curitiba com o Legends, Rave e Konys. Nos (Eu, Ilan e Gadotti) apenas demos uma sequencia nessa historia toda. Raves realmente nao tinham muitas. Entao foi aih que decidimos trabalhar, neste nicho. Tudo era novidade, as festas eram raras na epoca e a Big Fish trouxe um pouco do espirito das raves inglesas (e q tb aconteciam em SP) para Curitiba. Deixamos nossa marca pois muita gente lembra ate hoje de nossas festas. Foram historicas. Verdadeiras, sem a intencao de ganhar dinheiro e apenas com um proposito. Curtir a musica. 

2- Como foi tocar fora do Brasil em lugares como Inglaterra e Polonia?


Nem eu acreditava que estava com datas marcadas nesses paises. Acabei criando uma amizade muito bacana com promoters e agencias europeias durante o tempo em que gerenciei o meu selo fonografico BR909 Records, que lancavamos em vinil. Foi muito bom para adquirir experiencia, ver e vivenciar toda essa cultura eletronica que o Brasil importava da Europa. Mas tambem me decepcionei com alguns eventos, pensando que seria muito melhor que no Brasil. Quando cheguei la, algumas das festas eram piores do que as que faziamos em Curitiba. Mas no geral, foi um grande aprendizado. Eu adorava tocar em Londres. Tinha (ainda tenho) inumeros amigos por la, de diversas nacionalidades. Foi um periodo muito bacana de minha vida. 

3- Conta ai algo , enfim uma cena que foi marcante para vc.

Tocar no Rex Club em Paris, em 2005, no ano do Brasil na Franca foi realmente muito especial. Um club lendario como esse soh podia ser emocionante. E nao deu outra. Fiz um set todo focado nas sonoridades do BR909 na epoca (techno com pegada brasileira) e foi soh alegria ! 

4- Do final da decada de 90 inicio dos 2000, o que mudou para a cena atual?

Era tudo muito diferente. DJs tocavam por amor a musica e nao por vontade de ser famoso. Nao que hoje eles busquem apenas a fama. Tem muita gente que preza os verdadeiros valores da discotecagem, trabalhar a emocao das pessoas. Era uma categoria de trabalho super disputada e muito cara. Muito dinheiro era investido na compra de discos de vinil, viagens para a Europa para comprar discos e equipamentos. O acesso tambem era mais dificil. Nao existiam muitas lojas especializadas no Brasil. Os discos eram limitados e eles duravam meses dentro de uma case, se nao anos. Esses valores foram diluidos com a chegada da midia digital e DJs celebridades. Ao mesmo tempo, hoje em dia existem muito mais DJs que antigamente. Ficou relativamente facil baixar 20 musicas, gravar num CD / jogar num pendrive, e sair tocando por aih dizendo que fulano eh DJ. 

5- O que acha da área vip, champa com foguinho e DJs celebridades? 

Nao gosto. Apoio a cultura underground. Nao sou dono de club e nao preciso fazer nada para ganhar um trocado em cima disso. 

6- E das novas tecnologias, tanto para produção quanto discotegem? Os CDJs vão morrer? O vinil é o futuro?

Pra quem eh macaco velho e lembra das propagandas da farinha lactea Neston, ela dizia: "Existem 1000 maneiras de preparar Neston, invente uma". Para mim, o que importa eh o que sai das caixas de som, e nao a forma como ela esta sendo tocada. Adoro tecnologia, e se elas forem utilizadas de uma maneira criativa, otimo. 

7- Que conselhos daria para quem esta começando? (DJ)

Faca isso pq vc ama a musica e sente prazer nisso. Caso contrario, procure outra prtofissao. Tem muita gente que percebo que esta nessa por causa do glamour, da evidencia, do dinheiro, pegar mais gatinhas (os). Se esses forem os seus objetivos, vc talvez dure apenas alguns anos nessa profissao. Vi muitos desistirem e mudarem de ramo. 

8- Como esta a vida ai em Los Angeles (projetos, produção)

Esta otima, estou adorando. Essa cidade respira cultura, musica e entretenimento. Se nao bastasse, minha criatividade tem estado a flor da pele. Estou produzindo uma banda chamada New Cycle. Tambem produzindo um novo album para o meu projeto Cupcake. Ate o meu antigo projeto Nyllon ressucitou. Pra vc ver como essa cidade inspira. Saio em qualquer lugar, mesmo um pub qualquer e sempre me deparo com algum musico/DJ extremamente talentoso. Aqui soh tem gente muito boa. E isso acaba fazendo com que o nosso nivel de exigencia e performance tambem aumente. Se vc quiser aparecer na cena desta cidade, vc precisa ser excelente. Muito bom nao eh o suficiente. E isso inspira qualquer um. 

9- Qual a diferença para a cena brasileira?

Embora a cena musical americana seja muito mais evoluida, a cena eletronica em particular esta ao meu ver, atras do Brasil. As leis sao severas, as festas acabam cedo e isso acaba fazendo com que a cena nao se desenvolva de uma maneira rapida. Existem diversos nucleos realizando pequenas festas. Diversos clubs e DJs. Mas pouca troca, informacao e revezamento. Alguns festivais ocorrem, mas eh soh. A cena no Brasil esta muito mais avancada com relacao a isso. 

10- O que esta ouvindo em seus Head Phones?

Morando na California fica dificil nao ser bombardeado pelo hip hop. Mas eu procuro variar. Tenho ouvido muito hip hop oldskool dos anos 90 (o qual sempre fui obcecado). DJ Quik, Too Short, Tupac. Fui em alguns shows do Chromeo, que tambem estou adorando. E por incrivel que pareca, muito R&B e slow jams. Sade, Tony Braxton, Babyface. Sim, eu estou bem distante da musica eletronica atualmente. E adoro isso pq o que busco para os meus projetos sao sons que marcaram epoca, dentro da disco, funk e soul.